questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, some un vecchio rimorso
un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosí li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.
Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
como vedere nello specchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.
22 Marzo '50
(Virá a morte e terá os teus olhos -
esta morte que nos acompanha
de manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra inútil,
um grito calado, um silêncio.
Assim os vês em cada manhã
quando sobre ti só te inclinas
ao espelho. ó querida esperança,
nesse dia saberemos também nós
que és a vida e és o nada.
Para todos a morte em um olhar.
Virá a morte e terá os teus olhos.
Será como largar um vício,
como ver ressurgir
no espelho um rosto morto,
como escutar lábios fechados.
Desceremos o remoínho mudos.
22 de Março de 1950)
(a efeméride surpreendeu-me no momento em que escrevi a data e sorri)
"This was my attempt to start a band. At the time of the recording, I was doing a great deal of soul-searching and that's why the music is so intensely personal"
"I make music to push my own buttons. I've always been driven by an addiction to create sounds that are unique – not better than what other people do, just different."
"For me, the real gravy is when I hear a strange or beautiful sound in my head and then make it real in the world using the devices I have as a musician. The things that have never been done before are what interest me most."
"Touching Tongues" é o 7ª tema deste álbum de 1993. Como tal, e dada a regularidade que o levou a editar um disco intitulado The 7th Song, por ser este o lugar de destaque para as suas baladas mais inebriantes, adivinham o êxtase em que se transforma a escuta deste tema.
O título é sugestivo, a música é indescritível.
Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.
Italo Calvino, in As Cidades Invisíveis, trad. José Colaço Barreiros, editorial teorema
Deste livro é dolorosa a escolha de um fragmento a partilhar. Todas as páginas têm a magia de fazer nascer um sorriso, umas vezes no rosto, quase sempre na alma. É um livro delicioso. Há alguns anos escrevi algumas palavras a propósito da sua leitura; mantém-se hoje, com a mesma paixão:
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan.
- A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo. Depois acrescenta: - Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde: - Sem pedras não há arco.
Italo Calvino, in As Cidades Invisíveis, trad. José Colaço Barreiros, editorial teorema
Deste livro é dolorosa a escolha de um fragmento a partilhar. Todas as páginas têm a magia de fazer nascer um sorriso, umas vezes no rosto, quase sempre na alma. É um livro delicioso. Há alguns anos escrevi algumas palavras a propósito da sua leitura; mantém-se hoje, com a mesma paixão:
Conheci-te algures, numa noite de inverno... não tenho a certeza se não te teria visto antes... já ouvira falar da tua magia ... quem não ouvira?
Percorri cada cidade-fantasma, cada cidade-alma, cada cidade-vida... com o olhar mergulhado na sensação de contactar com Deus, o Belo e não Deus, o Criador.
Cada cidade-nome-de-mulher que crias e descreves existe já no nosso imaginário do futuro, naquela zona que só homens como tu puderam vislumbrar inteiramente, como se se mirassem no nosso espelho redentor, o que os faz libertarem-se da dúvida de estar a alucinar criativamente.
Adorei o contraste da tua fantasia livre com a simetria das tuas formas... lembrei-me de mim, e dos meus medos, das minhas ousadias infantis, das inseguranças presentes... porque a música é apenas uma aproximação grosseira, mesmo que a mais adequada de todas, à zona que as tuas palavras deixam magicamente entrever.
Ler-te é confiar. Confiar em ti é sonhar que se está morto e se pode mesmo assim contemplar a beleza. Acreditar nisso é viver na esperança de te encontrar de novo, Italo, seja em cima das árvores, às cavalitas na Lua, vestido de capa negra a cobrir o lado ausente do teu corpo, em qualquer início de romance inacabado para gáudio da nossa fantasia, em armadura falante e sentimental, ou simplesmente no brilho dos olhos dos afortunados que já te viram como eu.
Percorri cada cidade-fantasma, cada cidade-alma, cada cidade-vida... com o olhar mergulhado na sensação de contactar com Deus, o Belo e não Deus, o Criador.
Cada cidade-nome-de-mulher que crias e descreves existe já no nosso imaginário do futuro, naquela zona que só homens como tu puderam vislumbrar inteiramente, como se se mirassem no nosso espelho redentor, o que os faz libertarem-se da dúvida de estar a alucinar criativamente.
Adorei o contraste da tua fantasia livre com a simetria das tuas formas... lembrei-me de mim, e dos meus medos, das minhas ousadias infantis, das inseguranças presentes... porque a música é apenas uma aproximação grosseira, mesmo que a mais adequada de todas, à zona que as tuas palavras deixam magicamente entrever.
Ler-te é confiar. Confiar em ti é sonhar que se está morto e se pode mesmo assim contemplar a beleza. Acreditar nisso é viver na esperança de te encontrar de novo, Italo, seja em cima das árvores, às cavalitas na Lua, vestido de capa negra a cobrir o lado ausente do teu corpo, em qualquer início de romance inacabado para gáudio da nossa fantasia, em armadura falante e sentimental, ou simplesmente no brilho dos olhos dos afortunados que já te viram como eu.
Deixo aqui, à semelhança do que fiz em posts anteriores, o rol de sons que disputaram a minha audição durante a semana em que destaquei o magistral Steve Vai com o seu Sex & Religion.
Ouvi também:
Camel - Stationary Traveller, um disco de 1984
Michael Brecker - Time is of the Essence - Neste disco, e como acontece com frequência nos trabalhos destes músicos, Michael Brecker faz-se acompanhar de um leque invejável de parceiros de improviso - Pat Metheny (guitar), Larry Goldings (organ), Elvin Jones, Jeff "Tain" Watts e Bill Stewart (drums). A mistura é explosiva. Michael Brecker no seu lado menos lírico. Sempre impressionante, contudo.
Tom Waits - Swordfishtrombones, a voz inconfundível de Waits, em temas inesquecíveis como In the Neighborhood e Underground. Um disco de 1983.
Björk - Post, que me permitiu recordar o delicioso It's Oh So Quiet, entre outros temas memoráveis desta voz única. Post é um álbum de 95, e o título coincide com a função que cumpre hoje neste blog.
Ray Barretto - My Summertime - Os sons latinos em tons de jazz, com o feeling de um grande músico - receita para um deleite musical. as Congas de Ray são "acompanhadas" por Hector Martignon (Piano),Michael Philip Mossman (Trompete e Trombone), Adam Kolker (Sax's),Jairo Moreno (Basses), Vince Cherico (drums). Mais um disco BLUE NOTE.
Ouvi também:
Camel - Stationary Traveller, um disco de 1984
Michael Brecker - Time is of the Essence - Neste disco, e como acontece com frequência nos trabalhos destes músicos, Michael Brecker faz-se acompanhar de um leque invejável de parceiros de improviso - Pat Metheny (guitar), Larry Goldings (organ), Elvin Jones, Jeff "Tain" Watts e Bill Stewart (drums). A mistura é explosiva. Michael Brecker no seu lado menos lírico. Sempre impressionante, contudo.
Tom Waits - Swordfishtrombones, a voz inconfundível de Waits, em temas inesquecíveis como In the Neighborhood e Underground. Um disco de 1983.
Björk - Post, que me permitiu recordar o delicioso It's Oh So Quiet, entre outros temas memoráveis desta voz única. Post é um álbum de 95, e o título coincide com a função que cumpre hoje neste blog.
Ray Barretto - My Summertime - Os sons latinos em tons de jazz, com o feeling de um grande músico - receita para um deleite musical. as Congas de Ray são "acompanhadas" por Hector Martignon (Piano),Michael Philip Mossman (Trompete e Trombone), Adam Kolker (Sax's),Jairo Moreno (Basses), Vince Cherico (drums). Mais um disco BLUE NOTE.
Stefan Wolpe (1902- 1972)
Stefan Wolpe exerceu uma influência determinante na geração de compositores americanos de que se destacam Morton Feldman, John Cage e Elliott Carter, entre outros. O disco de que vos deixo aqui a referência reflecte essa admiração por este homem. Com interpretações pelos membros do ensemble recherche podemos escutar neste disco "for Stefan Wolpe" da Audivis Montaigne:
Stefan Wolpe
Piece for Two Instrumental Units (1963)
Form for Piano (1959)
Form IV: Broken Sequences for Piano (1969)
Drei kleinere Canons, for viola and Cello (1936)
Three Canons, for Stringtrio (1944)
Seven Pieces for Three Pianos (1951)
Morton Feldman
Extensions 4 for Three Pianos (1952-53)
John Cage
Five 4 - in memory of Stefan Wolpe, for soprano saxophone, alto saxophone and percussion (1991)
Elliott Carter
Inner Song - in memory of Stefan Wolpe, for Oboe (1991-92)
Johannes Schöllhorn
About the seventh, for chamber ensemble (1992)
Para quem conhecer a música de Feldman, de Cage, ou do próprio Wolpe, não deixa de ser já claro o que pode esperar de um disco assim. A mim, a simples presença de Feldman neste conjunto de obras seria justificação suficiente para procurar ouvir este disco com a frequência com que o faço. Cada um de vós terá as suas próprias motivações.
Os sons que têm acompanhado as últimas viagens têm estado todos relacionados, em maior ou menor grau, com este grupo que se estende ao longo das últimas três décadas do séc. XX.
Keith Emerson (keyboards), Greg Lake (bass) e Carl Palmer (drums) são músicos excepcionais, cujos percursos individuais podem ser seguidos detalhadamente a partir dos links. Como grupo, o que me fascina nos ELP é amplitude do leque de influências que deixaram que marcassem a sua estética. São músicos virtuosos que não deixaram que o lirismo e a lógica auditiva se perdessem nas malhas da construção dos seus muitos temas ritmicamente intrincados. Desde simples canções, que não desmentem a sua origem nos anos 70; até temas de molde erudito contemporâneo, fazendo uso de compassos de subdivisão irregular, hoje tão vulgares no rock progressivo, tão banais e até desinteressantes do ponto de vista das vanguardas da 2ª metade do séc. XX; mas que usados na estrutura interna de temas de textura transparente, resultado da formação simples destes trios, adquirem por vezes contornos de inovação surpreendente. Claro que estamos em anos que viram nascer também muitos dos primeiros trabalhos de Frank Zappa. Respiravam a mesma ânsia de excentricidade. Possuíam mesma voracidade pelo "novo" em que consistiria sempre a descoberta de uma voz individual e única no panorama plano dos estereótipos. Emerson, Lake e Palmer revelam o ecletismo da sua procura por um trabalho original, mesmo através da mesclagem da sonoridade típica do Hammond-organ em adaptações de temas alheios - marcante é a influência da música erudita, desde Janacek até Bartók, ou mesmo Stravinsky e Ginastera.
Deixo as capas de dois álbuns dos ELP - Brain Salad Surgery eTrilogy, apesar de serem também de destacar: Tarkus, King Biscuit Flower Hour (um grande concerto ao vivo) ou Pictures at an Exhibition (adaptação da conhecida obra de Mussorgsky).